segunda-feira, agosto 14, 2006

admirem

.rosa trombitas

a verdadeira destreza na corrida dos cavalos

não se esqueçam da força que eles têm nas patas

domingo, agosto 13, 2006

Há homens que são Homens

e há outros seres difíceis de entender ou definir.

André partiu de barco, levando a arma e a certeza de encontrar Irene.

- Se afinal não se foi com ninguém e está na nossa ilha, vai ficar contente por me ver. Sempre ficou. Mesmo quando nos zangávamos era fácil levá-la a perdoar...

Bill Schmoker

Chegado à Ilha, as aves tentaram-no como sempre faziam: "em voo, só em voo, não vou aos ninhos!", gabava-se quando alguém o criticava e, disparou.

O tiro ecoou no silêncio só cortado pelo ruído do mar a quebrar na areia branca, ou nas pedras do lado oposto da ilha.


grandespirito

Irene ouviu-o e estremeceu. Correu para o filho como que a protegê-lo. Ficou abraçada à criança.

- Que foi mãe?

- Um pobre aleijado que se atirou do ninho, antes de lhe crescerem as penas nas asas e, nunca saberá o que é voar.

Esquece menino, não terás de o conhecer enquanto a mãe puder.

Ridículos cobardes!

Murmurou de forma a que o filho a não escutasse já.


Silvestre
Do outro lado da Ilha, Fernando seguia o trilho da mulher que amara desde sempre e por respeito ao amigo lhe entregara sem luta.

- Não, ela pode não me querer, mas com ele sei que não vai ficar. Ou ficará?

Como dizer-lhe que ele não mudou nada, que nunca irá mudar?



(fim ao vosso critério)

quarta-feira, agosto 09, 2006

intervalo

magda marczewska

Estranha a Ilha.

De um lado areia fina e branca, de outro rochedos agrestes e arbusto rasteiro, o preferido das aves que não deixam os ovos enterrados.

Gordon W

Envolta em leves tecidos tão brancos como a areia, Irene ergue-se com o romper da aurora. É assim desde que se mudou. O chilreio do despertar das aves pela corrida ao alimento, é o despertador.

stan trampe

É governanta da mansão de um casal que, só de vez em quando, chega com o veleiro e uns tantos amigos que nadam, comem, bebem, deixam garrafas na areia e copos pelo chão e partem de seguida, como se fosse muito divertido ser assim.

Não os detesta, não sabe o que isso é. Ignora-os e limpa o estardalhaço que lhes fica para trás e, disso vive.

Todo o tempo que sobra passa-o a estudar as aves e a ler ou a brincar com a criança que não lhe sai de perto.

- És lindo!

Acaricia o rosto do menino que dorme e desce à praia. Ele sabe-lhe o rasto, se acordar.

Pensa em André. Pensa todos os dias, mas mais quando chegam as aves, como agora.

- Ele seria certo se soubesse respeitar "um golpe de asa".

Mas como dizer-lhe que não podia amá-lo por sabê-lo capaz de matar, se para ele matar é matar gente apenas?

Um dia, uma noite? Subi a escada e eu própria voei sem som de penas.



Giannis Kokkinos


A Liberdade é lá em cima, atravessado o escuro verdadeiro.



(segue)

Durante o café a memória mais fresca.

- Ela parecia enlouquecer por esta altura. Tanto passava horas junto à praia a ver chegar as aves, como subia aos locais mais íngremes para ver as ninhadas.

Só nisso não andávamos juntos...


ABrito

- Sim, tu e o teu grupinho de tolos preferiam caçá-los. Muitas vezes lhe vi água a bailar nos olhos, quando sabia das incursões à noite de lanterna em riste. Era o massacre.


Bill Schmoker

- Não exageres. Eu nunca cacei crias, sempre me deu prazer caçar em voo. Afinal elas são aos milhares, época adentro...que diferença fazia?

- A ti nenhuma. Já a Irene sei que importava e muito. Somos amigos desde sempre, lembras-te?

- Sim, ela tinha até uma hábito que me dava ciúmes confesso, o de chamar-te irmão.

De novo a garagalhada de Fernando. Riram ambos, como se tudo se tivesse passado há muito tempo já.

André voltou para a casa pelo lado da praia, tinha intenção de preparar o barco e ir à Ilha Branca, ainda que a fé de encontrar Irene fosse quase nenhuma mas, tinha lá tanta história a reviver...

- Um ninho. Um ninho aos meus pés. A minha mãe teria um sentido para isto... eu não. Mas é a primeira vez que a maré me traz um ninho. Que estupidez impressionar-me assim!


at all-creatures


- Amanhã, irei à outra ilha manhã cedo.


(segue)

segunda-feira, agosto 07, 2006

Pela manhã

magda marczewska

abriu a porta ao sol que havia.


- O Fernando deixou que a casa em volta virasse um matagal. Se houvesse um fogo por perto lá se ia uma casa com história, a minha história. Hei-de ajustar contas com esse mau pagador de promessas.


A própria mata e as praias mais abaixo e as ilhas pequenas tinham não só a história dele, a dele com Irene.


Ann Chaikin

- É claro agora porque estive dois anos sem voltar. Tudo foram patéticas justificações arranjadas por mim para adiar isto, este vazio...

- Já falas sozinho André? O continente fez-te mal.

A gargalhada do Fernando, incomparável, arrancou-o às memórias doridas. Primeiro puseram em dia as novidades da terra e da experiência de André, depois foi o amigo que abordou o tema.

- Estavas com aquele olhar perdido com que te víamos quando a Irene te deixou.

- Ela não me deixou. Não tínhamos compromissos nessa altura, sabes isso...

- Expressos talvez não, mas o que se vive em conjunto forma um compromisso provavemente com marcas mais profundas. Ainda não vês isso agora?


James Stanley Daugherty


Via. Via e via a mulher que perdera sem entender porquê, por toda a parte.

- Deixa esse olhar de cego à espera que o mar a traga e procura-a!

- Mas onde?

Apercebeu-se e quis retirar a frase, mas o amigo não deixou.

- É o tempo das aves. Irene amava esta altura do ano. Ainda te lembras aonde nidificam?

Vem, vamos tomar café.


(segue)

quinta-feira, agosto 03, 2006

Por fim avista a sua terra.

gerard laurenceau


- É tão bom estar de volta. Nunca me adaptei verdadeiramente ao sítio aonde vivo agora. E sei que vou voltar. Tivesse eu alguém que me esperasse aqui e voltaria já.

Parti por ambição? Não, parti por muita raiva! Quando a Irene se foi sem deixar rasto nem os abraços dos amigos suportava... Foi-se e nem aos pais disse para onde, antes ou depois. E eu que pensava conhecê-la...

Estacionou por trás da casa dos barcos. Está escuro demais para verificar se o dele tem sido tratado ou não.


by wiz66

- Eu na ilha sem barco sou como um homem sem água no deserto.
Entrou em casa. Pousou as malas. Subiu a escada e foi tomar um banho. Não queria mais agora que dormir.
Mas o pensamento tem truques que nem o cansaço vence, muitas vezes.
- Irene! Tenho saudades dela, do seu cheiro, dos mamilos como ponteiros agudos, do cabelo, da boca, das conversas depois ou antes. Era tão bom ouvi-la falar, de olhos fechados, como quem ouve música.

MoreyStudioNew.

- Hoje teria ido em busca dela, nem que fosse para entender. O orgulho mandou mais e eu não fui. Será já tarde?

Demorou muito até adormecer.

(segue)

A mãe!... chega a melancolia.

Tinha morrido sem o entender.
Os tempos eram revolucionários. Duros para a geração dela.

Inevitável foi lembrar os tempos da praia livre, dos acampamentos, das violas, das trocas filosóficas, do fumo, do vinho...das flores.

- Nós não tínhamos vergonha de uma flor na mão, nem pudor da nudez que os outros proibiam. Nós sabíamos Ser!


Manolis Tsantakis.

Tanta memória a vir à tona a rodos! Imagens sobre imagens, sinestesias, essas sensações que trazem cheiro cor som e paladar, como a daquela rocha ali à frente e o perfume intenso do corpo de Irene a invadi-lo.

- Que será feito dela?

Depois, arrependido, continuava o seu monólogo no nevoeiro:

- E isso interessa? Nada anda para trás. Eu fui-me embora. Sou hoje um burguês bem sucedido, respeitado na Ilha. Arredondei arestas como o mar faz aos contornos desta terra. Só não casei como a minha mãe queria...

De novo a mãe. Era assim nos regressos, depois abrandavam as memórias e perdia-se no meio do novo que houvesse, na terra onde nascera.


at Cepolina

Mas os sentidos tinham despertado com o odor a maresia e árvores e o rarefazer do ar, agora que subia...

- Irene! porque nunca foi possível repetir-te em nenhuma outra mulher?

(segue)

terça-feira, agosto 01, 2006

A Ilha.

Enfim férias!

Já há dois anos não sabia o que isso era. Ter uma empresa própria fora um sonho de sempre e conseguira. Agora as responsabilidades tiravam-he mais liberdade do que esperara.

Voltar à sua ilha! Só isso fez com que cantarolasse ao volante apesar do nevoeiro. O nevoeiro de sempre. A isso estava ele acostumado. A sua terra era feita de árvores rios bruma gente e claro, mar.

eve andersson

Mar, podia encontrá-lo em quase todo o lado...

Falso. Não aquele. Azul intenso, forte ou manso, conforme queria acalentar ou aterrar.

Era comum amar e temer o mar que circundava a Ilha, mas ele limitava-se a amá-lo, desde menino. Desde os tempos em que fugia à mãe, para correr de pé descalço para a praia e ficar a ouvi-lo a perfurar as rochas.

Paul Williamson.

Fase de migração das aves, aproveitaria para caçar. Quando tinha família não podia. Tinha de enfrentar uma guerra ecológica com a mãe e acabava sempre por perder.

Súbito parou. Um pássaro parecia ter-se suicidado de encontro ao espelho retrovisor.

Entristeceu.

- Se a minha mãe estivesse viva ainda, chamaria a isto um mau presságio... Disparates de ilhéu!


Eugene Alaverdy

E para não pensar na mãe, acelerou.



(segue)